Resposta à Carta Pedagógica aos Educadores da Escola
Itinerante
De Isabela Camini
Tua carta me inspirou a refletir sobre minha
relação com a terra e minha raiz .
Hoje por aqui amanheci e como faço quase
sempre, cedo me pus a mexer em minhas plantas e verduras, entre podas, pequenas
limpezas, adubo e água... Senti meditando. Observei que minha concentração
estava no aqui e ágora. Era como se minha mente se esvaziasse e ao mesmo tempo
se enchesse, o sentimento que brotou foi como se tivera alimentando-me, de fato
o fiz e tenho feito, pois a terra nos alimenta na totalidade. Compreender esse
sentido de relação com a natureza é necessário, onde mais e mais se mergulha na
“Cultura
do Silêncio” que Freire expressa tão bem no texto Ação Cultural e
Reforma Agraria.
As cartas de Rosa, Gramsci, Marx e Engels,
Reich me fizeram descobrir muito mais do que teoria, mais do que compreender o
mundo, com eles/as aprendi e fundamentei essa dimensão do humano, do SER em
luta, em contradição.
Para responder a tua carta, escrevo esta
outra, breve, que espero compartilhe um pouco o sentimento do lido e sentido da
leitura.
Ao ler sua carta aos educadores das
Itinerantes me voltei a essa mesma dimensão tão cara e rara nessa atualidade: A
dimensão da Vida Humana.
Ao ler-te fico feliz e emocionada, tanto pela
iniciativa de fazer esse belo trabalho das cartas das crianças e dos
educadores. Um verdadeiro trabalho de garimpar pedras em diamantes. Sou feliz
que compartilhas comigo, sempre me animo e me alimento de esperança quando olho
a volta e vejo educadores comprometidos com a luta e com a classe trabalhadora.
Acho extremamente contundente a educadora
comprometida problematizar a realidade, não perder a criticidade e produzir
análises do processo histórico, ao trazer à tona o elemento “Leitura e Escrita” traz a
intencionalidade de fundo. Se tiver errada na hipótese me corrija, ou seja, historicamente
aprendemos com todos esses autores, seres humanos que citamos que como diz
Brecht: Agarra o livro ele é uma arma!
Incentivar,
intencionar é uma estratégia pedagógica extremamente importante em tempos de
celular, Ipad, tablete, facebooks e sei lá os tantos nomes das tecnologias, que
cada vez mais nos dispersam.
Invés
de conhecimento, acumulamos informações, a impressão que tenho este processo
leva a um atrofiamento de nosso músculo da criatividade, curiosidade. Isso não
vale só em relação aos livros, pode ser analisado nas outras dimensões,
principalmente nas relações sociais, que se modificaram conjuntamente a isso,
já que nós sabemos que o desenvolvimento das forças produtivas produz esse ser
desligado/desconecto de si, dos outros e da sua natureza. (Bueno, e eu já
começo a refletir) Por isso, gostei tanto de tua carta, me levou além do
próprio texto.
Ler cada trecho dessa carta me fez animada,
feliz, pela profundidade expressada, principalmente pelo profundo sentido do
CUIDADO e do AMOR, duas palavras extremamente usadas, mas com carência de
prática social. Todos esses Seres que tu citas, de Pessoa, a Rosa, Exupéry,
Olga, Gramsci, enfim, todos/as estavam embriagados de amor humano, foi por isso
que seus escritos na minha análise nos expressam essa profundidade de vida.
Como tu, acredito que as cartas tem esse
cunho terapêutico de cura, para mim, todas as manifestações de arte são
grávidas desse sentido, e como sempre olhei cartas não como uma forma, mas como
arte. Assim podem traduzir o sujeito histórico no seu movimento psíquico e
social. Bem escrito por ti, essas manifestações são uma riqueza para a história
humana, pois materializa a “educação dos sentidos” como Marx trabalha nos
Manuscritos Econômicos e filosóficos, ao discutir a parte da Propriedade
Privada e o Comunismo; E, Gramsci trabalha no Americanismo/ fordismo nos Cadernos do Cárcere.
Compartilho essa aprendizagem de não sermos
indiferentes frente ao mundo. Também carrego e carregarei enquanto existir a
indignação frente a injustiça social.
Sou extremamente feliz por você ter feito
esse longo trabalho, sei que como disse é um dever de ofício. Sabemos esse é um
trabalho não para o MST, ou para as Itinerantes, também, mas acima está um
trabalho dedicado a Classe Trabalhadora, trabalho, árduo, cansativo, metódico,
desafiador. Nós sabemos o desafio que é juntar escrito, produzir junto com o
povo, a riqueza é sem tamanho, somos como classe os produtores da história.
Sobre a parte da comemoração do aniversário
da Itinerante, é isso, manter viva a memória social e coletiva, a história é
uma árdua tarefa como educadores/as temos que ser mantenedores dessa chama,
dessa experiência importantíssima para os ensaios de processo emancipação humana.
Eu te parabenizo, acho que sim, temos que
reconhecer o trabalho e a dedicação das companheiras e companheiros. E isso
para mim, deve ser feita seja na escrita, seja na prática, na luta, em textos,
em arte...Somente em última análise na Morte. Uma coisa que ainda não sei como
trabalhar é que as pessoas se tornam importantes pelos trabalhos e feitos na
sociedade só após a morte. Eu particularmente considero isso triste.
Bem, assim, li sua carta com o coração e
alma, mas também com a memória de quem fez parte dessa história da Itinerante.
Valeu por compartilhar comigo seus escritos
mais uma vez quiçá muitas vezes ainda. Eu segui meu jeito de escrever como quem
fala me sinto mais tranquila, pois amo cartas...desde criança era a minha forma
de escrita predileta.
Um rico abraço
Tarde de Inverno!
Lua Cheia Belíssima!
Em uma Porto
Alegre de 20 de Agosto de 2013.
Temperatura de 27 graus
Katiane
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