sábado, 14 de setembro de 2013

Resposta à Carta Pedagógica aos Educadores da Escola Itinerante


Resposta à Carta Pedagógica aos Educadores da Escola Itinerante 
De Isabela Camini

Tua carta me inspirou a refletir sobre minha relação com a terra e minha raiz .
Hoje por aqui amanheci e como faço quase sempre, cedo me pus a mexer em minhas plantas e verduras, entre podas, pequenas limpezas, adubo e água... Senti meditando. Observei que minha concentração estava no aqui e ágora. Era como se minha mente se esvaziasse e ao mesmo tempo se enchesse, o sentimento que brotou foi como se tivera alimentando-me, de fato o fiz e tenho feito, pois a terra nos alimenta na totalidade. Compreender esse sentido de relação com a natureza é necessário, onde mais e mais se mergulha na “Cultura do Silêncio” que Freire expressa tão bem no texto Ação Cultural e Reforma Agraria.
As cartas de Rosa, Gramsci, Marx e Engels, Reich me fizeram descobrir muito mais do que teoria, mais do que compreender o mundo, com eles/as aprendi e fundamentei essa dimensão do humano, do SER em luta, em contradição.
Para responder a tua carta, escrevo esta outra, breve, que espero compartilhe um pouco o sentimento do lido e sentido da leitura.
Ao ler sua carta aos educadores das Itinerantes me voltei a essa mesma dimensão tão cara e rara nessa atualidade: A dimensão da Vida Humana.
Ao ler-te fico feliz e emocionada, tanto pela iniciativa de fazer esse belo trabalho das cartas das crianças e dos educadores. Um verdadeiro trabalho de garimpar pedras em diamantes. Sou feliz que compartilhas comigo, sempre me animo e me alimento de esperança quando olho a volta e vejo educadores comprometidos com a luta e com a classe trabalhadora.
Acho extremamente contundente a educadora comprometida problematizar a realidade, não perder a criticidade e produzir análises do processo histórico, ao trazer à tona o elemento “Leitura e Escrita” traz a intencionalidade de fundo. Se tiver errada na hipótese me corrija, ou seja, historicamente aprendemos com todos esses autores, seres humanos que citamos que como diz Brecht: Agarra o livro ele é uma arma!
Incentivar, intencionar é uma estratégia pedagógica extremamente importante em tempos de celular, Ipad, tablete, facebooks e sei lá os tantos nomes das tecnologias, que cada vez mais nos dispersam.
Invés de conhecimento, acumulamos informações, a impressão que tenho este processo leva a um atrofiamento de nosso músculo da criatividade, curiosidade. Isso não vale só em relação aos livros, pode ser analisado nas outras dimensões, principalmente nas relações sociais, que se modificaram conjuntamente a isso, já que nós sabemos que o desenvolvimento das forças produtivas produz esse ser desligado/desconecto de si, dos outros e da sua natureza. (Bueno, e eu já começo a refletir) Por isso, gostei tanto de tua carta, me levou além do próprio texto.
Ler cada trecho dessa carta me fez animada, feliz, pela profundidade expressada, principalmente pelo profundo sentido do CUIDADO e do AMOR, duas palavras extremamente usadas, mas com carência de prática social. Todos esses Seres que tu citas, de Pessoa, a Rosa, Exupéry, Olga, Gramsci, enfim, todos/as estavam embriagados de amor humano, foi por isso que seus escritos na minha análise nos expressam essa profundidade de vida.
Como tu, acredito que as cartas tem esse cunho terapêutico de cura, para mim, todas as manifestações de arte são grávidas desse sentido, e como sempre olhei cartas não como uma forma, mas como arte. Assim podem traduzir o sujeito histórico no seu movimento psíquico e social. Bem escrito por ti, essas manifestações são uma riqueza para a história humana, pois materializa a “educação dos sentidos” como Marx trabalha nos Manuscritos Econômicos e filosóficos, ao discutir a parte da Propriedade Privada e o Comunismo; E, Gramsci trabalha no Americanismo/ fordismo nos Cadernos do Cárcere.
Compartilho essa aprendizagem de não sermos indiferentes frente ao mundo. Também carrego e carregarei enquanto existir a indignação frente a injustiça social.
Sou extremamente feliz por você ter feito esse longo trabalho, sei que como disse é um dever de ofício. Sabemos esse é um trabalho não para o MST, ou para as Itinerantes, também, mas acima está um trabalho dedicado a Classe Trabalhadora, trabalho, árduo, cansativo, metódico, desafiador. Nós sabemos o desafio que é juntar escrito, produzir junto com o povo, a riqueza é sem tamanho, somos como classe os produtores da história.
Sobre a parte da comemoração do aniversário da Itinerante, é isso, manter viva a memória social e coletiva, a história é uma árdua tarefa como educadores/as temos que ser mantenedores dessa chama, dessa experiência importantíssima para os ensaios de processo emancipação humana.
Eu te parabenizo, acho que sim, temos que reconhecer o trabalho e a dedicação das companheiras e companheiros. E isso para mim, deve ser feita seja na escrita, seja na prática, na luta, em textos, em arte...Somente em última análise na Morte. Uma coisa que ainda não sei como trabalhar é que as pessoas se tornam importantes pelos trabalhos e feitos na sociedade só após a morte. Eu particularmente considero isso triste.
Bem, assim, li sua carta com o coração e alma, mas também com a memória de quem fez parte dessa história da Itinerante.
Valeu por compartilhar comigo seus escritos mais uma vez quiçá muitas vezes ainda. Eu segui meu jeito de escrever como quem fala me sinto mais tranquila, pois amo cartas...desde criança era a minha forma de escrita predileta.
Um rico abraço

Tarde de Inverno!
Lua Cheia Belíssima!
 Em uma Porto Alegre de 20 de Agosto de 2013.
Temperatura de 27 graus
Katiane


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