quinta-feira, 29 de maio de 2014

LUA QUASE CHEIA

 

 

LUA QUASE CHEIA



Thiago de Mello selecionou, traduziu e fez as notas do lindo livro “Poetas da América de canto castelhano”. O poema a seguir é de Alfonsina Storni, poetisa argentina, ainda pouco conhecida por aqui.

LUA

Alfonsina Storni

Hoje me espia a lua
branca e desmesurada.

É a mesma lua de ontem
A mesma de amanhã.

Mas é outra, que nunca
Foi tão grande e tão pálida.

Tremo assim como as luzes
Estremecem nas águas.

Tremo como nos olhos
Sabem tremer as lágrimas.

Tremo como nas carnes
Sabe tremer uma alma.

Oh! A lua moveu
Seus dois lábios de prata.

Oh! A lua me disse
As três velhas palavras:

“Morte, amor e mistério”...
Minhas carnes se acabam.

E sobre as carnes mortas
A minha alma se arqueia.
Alma, gata noturna,
Salta por sobre a lua.

Vai pelos céus, compridos,
Triste, toda encolhida.

Vai pelos longos céus,
Vai sobre a lua branca.

(Mello, Thiago de. [Seleção, tradução e notas]. Poetas da América de canto castelhano. São Paulo: Global, 2011, p. 25).
(De la inquietud del rosal, 1916) 
http://www.nova-acropole.pt/a_alfonsina_vozes_eterno_feminino.html 
 

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